quinta-feira, 8 de outubro de 2009

NASCIDOS EM BORDÉIS - A Índia que não apareceria às oito.

Por Sâmila Braga


Fustigante e límpido, o filme de Zana Briski e Ross Kauffman transporta quem o está assistindo para o distrito da Luz Vermelha, em Calcutá. A principio, o titulo, já enunciador, aponta mas não esclarece o que vem pela frente. Meninos e meninas, nascidos do pecado. Vestígios de uma sociedade milenar, economicamente ascendente, mas apenas para uns poucos abastados.


Shanti Das, Avijit, Suchitra, Manik, Gour, Puja Mukerjee, Tapasi, Mamuni e Kochi são os escolhidos de Zana, a fotógrafa. Nove histórias, e nove futuros que Zana quer ajudar a construir. Todos ganham por presente possibilidades-de-ver-mundo, ou mais especificamente, máquinas fotográficas. Ela incita e ensina os pequenos a vivenciarem os momentos através das lentes. Talvez em algumas fotos eles esqueçam a realidade na qual estão inseridos, para congelarem belos momentos, movimentos. Ou percebam em cada foto a sociedade, diferenças e injustiças que os cercam. A Índia pobre e explorada que a novela brasileira não mostra. As crianças que não podem estudar e fazem do trabalho forçado sua única brincadeira. E como as que o filme traz, são excluídas e permeadas de preconceito por serem resíduos de um sistema. De pele encardida, da sujeira da rua, de casa e do governo. “Olho por olho e o mundo continuará cego!”. A Índia que Gandhi já anunciara forrada de mazelas.




Avijit se destaca. Seu atilamento é o mais aguçado. Sensibilidade, astúcia e percepção. É incrível como o garoto descreve o trabalho da mãe e como conta que quando ela não recebia o pagamento, quem ia atrás dos homens era ele próprio, tendo de ser duro. Talvez esquecesse que é apenas uma criança. É reflexivo quando fala da foto que enquadra juntos sapatos e pratos sujos. A mãe morre queimada. Fica sem vontade. Mas recupera-se e vai para Amsterdã, representando seu país. Na conversa com as outras oito crianças, de diversas partes do mundo, demonstra sensibilidade ao analisar fotografias. Do grupo, é um dos poucos que seguem os estudos, por obstinação, queria ser médico. ‘’Fotografar... é colocar na mesma linha de mira... A cabeça, o olho e o coração’’, conceita Cartier-Bresson. Esses meninos e meninas fazem exatamente isso, mesmo sem a técnica fotográfica, batem fotos emocionais, emocionantes.




Para quem não teve a oportunidade de assistir, o documentário é tocante, e atribui novos conceitos e valores sobre criança, fotografia e a vida, em seus 85 minutos.



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