quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Vida, arte, emoções: outubro no Cine FA7

Umas das telas de Pollock, artista trazido no
filme da segunda quarta-feira do mês


Três filmes sobre arte. Três vidas vividas de e para a arte. Nesse mês, o Cine FA7 traz obras biográficas de três artistas, de diferentes épocas e habilidades artísticas, mas que tem em comum à entrega, a vivacidade, o espírito das artes.

Para dar início, "Jack Kerouac: o rei dos beats", documentário de 125 minutos do diretor John Antonelli, será exibido na próxima quarta (5/10). Em seguida, no dia 19/10, a vida a conturbada do pintor americano Pollock é trazida num filme DE mesmo nome. E para finalizar o mês, todo o encanto, romance e loucura da artista plástica francesa Camil
le Claudel, em 26/10.

Confira a Programação completa aqui!

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Realidade brasileira na ficção nacional, setembro no Cine FA7


Neste mês, o Cine FA7 traz apenas três filmes. Desta vez, o ponto em comum entre as obras é a nacionalidade. Todos brasileiros, são expressões do cinema nacional produzido nos últimos anos.

Para dar início, Pixote, de Hector Babenco, retrata a saga de um garoto criminalizado pela sociedade. Será exibido na próxima quarta-feira, depois do feriado, dia 14 de setembro. Na quarta seguinte, dia 21, a trama conta com Débora Falabella e Roberto Bomtempo estrelando a conturbada história de Dois perdidos numa noite suja. E para finalizar o mês, Amarelo Manga preenche a telona do nosso cineclube. Um emaranhado de relacionamentos conflituosos dão vida ao filme, que será exibido dia 28.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Agosto no Cine FA7: de volta!


Acabaram as férias, o semestre acadêmico voltou, e junto com ele, o cineclube da FA7. Neste mês trazemos quatro incríveis documentários.

Para começar bem, teremos Janela da Alma, no dia 10 de agosto, documentário que trata da visão sob uma perspectiva multidisplinar e poética. Em seguida, trazemos Caminho para Guantánamo., dia 17, que conta a história de jovens, presos e torturados, pelo exército americano no Paquistão.


Logo depois, no dia 24, exibiremos Arquitetura da Destruição. O filme mostra como Hitler usou a mídia, de forma estratégia, a seu favor. E para finalizar, uma homenagem ao grande ícone da TV brasileira, Chacrinha, com o documentário Alô, alô Terezinha, no dia 31.


A partir do mês que vem, teremos novidades, aguardem.


Confira a programação, com os resumos de cada filme, clicando aqui!

segunda-feira, 23 de maio de 2011

CRONICAMENTE INVIÁVEL – Cliques sobre uma realidade brasileira fragmentada: um retrato um pouco míope

Por Sâmila Braga



“Pra que perder tempo interpretando a realidade pras pessoas entenderem? Só pra fingir que eu entendo melhor? Melhor só registrar os fatos e deixar a interpretação pra depois”. Esse é o momento de desistência de montagem do país pelo personagem narrador intelectual Alberto. É por meio dele que, Sérgio Bianchi e Gustavo Steinberg, resolvem contar e costurar a trama dos personagens do Brasil cronicamente inviável.


Lançado à época da comemoração de 500 anos do descobrimento do Brasil, Cronicamente Inviável ensaia um redescobrimento do país. Tira a máscara da civilidade e a questiona, uma máscara tão tênue e ao mesmo tempo tão opaca que as pessoas não enxergam. Não quer comover puramente para ganhar prêmios, como outros filmes da mesma época. Revela, a partir da trama e do emaranhado de relações dos personagens, o drama em um contexto alegórico.


Caem do filme indícios de um Brasil incluído na pós-modernidade. Já no início, as latas de lixo em frente o restaurante, são representantes da compreensão da reciclagem como forma de consciência ecológica, mas que ao mesmo tempo, é confrontada com a insensibilidade diante da fome, problema social de maiores proporções. Ou seja, na visão burguesa a inclusão de pedaços ínfimos da modernidade no país é suficiente, problemáticas maiores tem a solução retardada.


Em outros momentos, também é possível reparar a alusão a civilidade. Como quando o economista entra no táxi e pede que o motorista respeite o semáforo. Ou quando, no segundo atropelamento, a mulher se diz cumpridora das leis, e grita não ter culpa ou responsabilidade sobre a vida da criança mendiga que agoniza no chão.


“Eu não tenho culpa”, poderia ter sido o nome do filme, já que é nesse ponto que a película tenta evidenciar a culpabilidade de todos sobre a caótica situação brasileira pós-moderna. Só que é igualmente aí que Cronicamente Inviável peca. Evidencia o conformismo, o desregramento regrado e a responsabilidade desviada, por meio de infinitos estereótipos. Nesse retrato cítrico brasileiro, o diretor diz pontuar os clichês esquizofrênicos, cínicos e otimistas, mas reforça alguns espectros, não sei se intencionalmente.


É feliz ao mostrar os conflitos sociais, étnicos, culturais, em ataque aos mitos reforçados cotidianamente pela ideologia dominante e recriminar o achar da existência de uma cultura nacional homogênea, na qual todos defendem seu modo de viver como perspectiva de integração e desenvolvimento. Todavia, faz uma crônica, não inviável, mas alegórica demais, que ataca, com uma fotografia mediana, sob uma ótica pequeno-burguesa e muitas vezes limitada. Nada de positivo é considerado.


Visceralmente cinematográfico, no falso documentário, o oprimido assume o papel de opressor. Se não é papel do cinema apontar soluções, não é também papel mostrar os lados divergentes e não somente o caos e os aspectos negativos? A exemplificação disso se mostra na cena em que um grupo de trabalhadores do campo organizados, alusão ao MST (Movimento Sem Terra), é trazido como desestabilizado e sem direção. Há aí uma crítica vazia aos movimentos sociais. Desconsidera com isso a relevância das intervenções da sociedade civil organizada.


Volta-se aí à questão dos estereótipos. Muitos takes poderiam ser analisados separadamente. Os discursos dos oprimidos e/ou dominados, se colocamos por esse viés, é trazido acompanhado de características ruins e de um cunho pejorativo. Na cena em que duas mulheres negras se dizem discriminadas, essas agem de maneira neurótica, e nitidamente se passa a imagem de que estão erradas e paranóicas. Pode o filme questionar com isso, o fato de que por passar por diversas situações de preconceito, o negro acaba por internalizá-lo, vendo-o onde não existe? Tal questionamento não fica claro.


A mesma falta de coerência se manifesta em outros personagens. O intelectual critica e aponta a sociedade e seus aspectos conflituosos, mas ao fim é descreditado por se inserir nessa lógica natural do trambique. O índio, que fala lentamente, não defende a igualdade, como possibilidade de reestabilização, mas sua cultura como perspectiva da integração e construção da identidade nacional. Sulistas, tanto a estudiosa, como o fazendeiro, são sempre separatistas, acreditando no trabalho como forma de desenvolvimento e progresso, mesmo que esse seja explorador.


Os operários são passivos, conformistas, manejáveis, assumindo discursos, sem qualquer crítica ou inaceitação. Uma bela cena a respeito desse último ponto é a tomada em que o garçom Adam faz um discurso anti-patrão. Aí, o filme levanta uma questão relevante, o terrorismo. “Num é violência, é terror”, propõe Adam aos operários na rua.


A violência, para o filme, parece ser a única característica comum à todas as regiões do país. Já que essas possuem uma diversidade gigantesca, não podendo ser abarcada em integridade pelas correntes idealizadoras de uma identidade nacional brasileira unificada e sem subversão. Seja essa violência esboçada na brigas, assaltos, pela polícia, ou mesmo a violência contida na fome ou no desrespeito com o mais fraco. “Despedir não tem graça, divertido é humilhar”, conclui Luís, dono do restaurante onde se passa parte do enredo.


Como montagem de um panorama, onde as culturas competem entre si, as cenas aparentemente banais, esquetes unificadas e costuradas, parecem ser anunciadoras de um mal já sabido para olhos anestesiados pelo cotidiano.


“A felicidade é uma perfeita forma de dominação autoritária”, descreve o escritor observador Alberto. Ao som do axé baiano ele elucida o conceito de entorpecimento das massas para manutenção da pobreza. "Homens e mulheres podem ser computadorizados, e transformados em robôs, sim- mas eles também podem se recusar a isso", pontua Herbert Marcuse em Ecologia e Crítica da Sociedade Moderna. E essa recusa não é mostrada em Cronicamente Inviável. Oprimidos são mostrados como bandidos ou coitados. E opressores como principais interessados em manter a ordem vigente.


A personagem carioca, esposa caridosa, tem atos de solidariedade. Na entrega de brinquedos, metáfora que exprime o remorso inconsciente que as classes dominantes parecem ter, Ana Alice sugere se livrar da culpa. O filme aclara e desmistifica o imaginário do país fruto da miscigenação harmônica e desprovida de conflitos. Explícita que, muito pelo contrário, o Brasil se originou a partir de um emaranhado de resistências formadoras da nação. Levanta ainda, como alguns indivíduos até hoje, cada um a seu modo, querem recuperar essa pseudo unidade e identidade nacional.


Na cena final, uma mendiga, persona conjunto das opressões (pobre, negra, mulher, e, provavelmente, nordestina) reza uma canção de ninar ludibriadora para o filho. Como quem não tem perspectiva e diz “vamo ser um pobre, mas um pobre honesto”. Justifica e assume a ideologia dominante como forma de se conformar e não sofrer mais ainda com as mazelas que a oferecem. É o arremate da inércia, de quem domina e de quem é dominado, a reflexão final sobre o que fazer quando os problemas se naturalizam tanto. Cronicamente Inviável é um filme pra chocar a classe média. O povo já vive inviavelmente.


quarta-feira, 4 de maio de 2011

TERRA ESTRANGEIRA – O não-lugar físico, psicológico, econômico: a fuga do Brasil dos anos 90


Por Sâmila Braga


Até 1990, os malefícios do capital e da economia liberal iam afetando gradativamente a população brasileira. Foi só com o presidente playboy, de rosto jovem e cínico, que as garras do neoliberalismo se cravaram nitidamente nos corações de todo um povo, de uma só vez. Foi o confisco monetário da década de 1990. Olhos e corações se apertaram, quando a TV exibiu a então ministra da Economia. Zélia Cardoso, a confirmar o roubo vestido de política, realizado pelo governo Collor.

É nessa época que se passa Terra Estrangeira, renorteando o Cinema Brasileiro, então meio perdido. A produção luso-brasileira, dirigida por Walter Salles e co-dirigida por Daniela Thomas, ganhou inúmeras premiações, dentre elas, o Prêmio Margarida de Prata (Brasil), o Prêmio Golden Rosa Camuna (Itália) e o Grand Prix do Entrevues (França).

A trama usa a vida de Paco (Fernando Alves Pinto) para ir costurando o enredo e a argumentação. Sua mãe (Laura Cardoso), uma costureira espanhola que sempre cuidou do filho sozinha, cai de um enfarto ao saber que perdeu suas economias de toda uma vida para o Governo Federal. Paco, desamparado, recebe a proposta de viajar para Portugal, vendo aí mais próxima a oportunidade de conhecer a terra de sua mãe, sonho que ela alimentara e economizara para lá retornar.

As cenas em preto e branco são usadas como recurso de destaque da crise no país. O estudante, de 21 anos, aceita a proposta de levar um violino, cujo conteúdo desconhece. Continha diamantes para o tráfico internacional. Ao chegar na Europa conhece Alex (Fernanda Torres), também brasileira, namorada de um músico traficante. A moça, meio envelhecida pelos trabalhos, anseios frustrados e saudades do Brasil, já está cansada do amor destrutivo que vive com o namorado Miguel (Alexandre Borges).

Paco e Alex se conhecem após o assassinato de Miguel, e se envolvem. Compartilham a solidão na terra estrangeira e a falta de perspectiva de retorno para sua terra pátria. Sob uma iluminação distinta e uma fotografia privilegiada, o amor do casal nasce. O sofrimento os une, como na cena em que se abraçam, tendo ao fundo o navio encalhado. Momento digno de um fado português, já que não podem partir, nem querem ficar, tal qual o navio.

O sentimento do casal é regado por Vapor Barato, música de Jardes Macalé, em alusão a desesperança de uma geração cujos pais viveram uma ditadura militar e o exílio, e que agora fogem de um país sem rumo, revestido de uma falsa democracia. Embora não se prenda às questões políticas, dá margem para a reflexão. Tenta se firmar porém, no problema da imigração brasileira, pincelando a questão do contrabando.

O mar, ao mesmo tempo, é ícone da liberdade e caminho-relação entre os países que no passado foram metrópole e colônia. O navio ali encalhado, talvez referência a um Portugal periférico na Europa e à brasileiros periféricos em Portugal, vindos de um Brasil também periférico na economia mundial. Esses prendimentos dos personagens ao seu país de origem, com suas identidades culturais, constroem uma presente desterritorialização.

O atravessar do limite Portugal/Espanha, na cena em que Alex carrega no carro Paco, baleado e quase sem vida, é a materialização do rompimento da fronteira. Narrativa e espaço dialogam e se emprestam pedaços durante todo o filme.

Alguns críticos sinalizam Terra Estrangeira com ares de cinema noir, apresentando a busca por uma caracterização da realidade social brasileira, com trechos a la road movie. E não se pode negar a contribuição estética, narrativa e conceitual que a película imprimiu no cinema brasileiro contemporâneo. Deixou rastros que são seguidos e calçam obras até hoje.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

MAIO - Cinema Brasileiro Contemporâneo

Nelson Pereira dos Santos, Daniela Thomas,
Sérgio Bianchi, Júlio Bressane e Walter Sales

Este, mês o Cine FA7 vem com quatro obras do cinema atual do nosso país. Esse nosso cinema que vem se desenvolvendo desde seu ápice até agora, desde as películas do Cinema Novo, algumas delas que exibimos mês passado.


Os filmes exibidos também vêm refletindo as questões do país que se seguiram a sua produção, como em Cronicamente Inviável e Brasília 18%. Ou em outros casos, como em Dias de Nietzsche em Turim, mostram a repercussão que os cineastas brasileiros conseguem ter internacionalmente. Ou ainda, pincelam como é ser brasileiro fora do Brasil, como em Terra Estrangeira.


Walter Salles e Daniela Thomas, Sérgio Bianchi, Júlio Bressane e Nelson Pereira dos Santos são os diretores que figurarão nas quartas-feiras de maio da sala 53B. Venha conferir um pouco do cinema nacional no Cine FA7 e não esqueça de pegar sua pipoca!

quarta-feira, 13 de abril de 2011

O BANDIDO DA LUZ VERMELHA: “Trata-se de um faroeste do Terceiro Mundo”

Por Sâmila Braga

“Quem sou eu?”. A inspiração existencialista de Godard se apresenta já na primeira fala de O Bandido da Luz Vermelha. Jorge, personagem inspirado no assaltante e assassino João Acácio Pereira, bonitão que assolou a cidade de São Paulo no fim da década de 50, inicia a obra com o monólogo. Logo, a narração debochada que se assemelha a um programa de rádio policialesco informa: “trata-se de um faroeste do Terceiro Mundo”. Ai, quem já escutou a música Rubro Zorro, da banda Ira, identifica. A canção, que pouco informa na letra, se refere claramente ao bandido da luz vermelha.

Lançado, em 1968, um ano depois de o mito inspirador da trama ser condenado à 351 anos, 9 meses e 3 dias de cadeia, O Bandido da Luz Vermelha marca exatamente o momento de transição entre o Cinema Novo e a abertura para o Cinema Marginal. Apesar de considerado Marginal, pela sua caracterização estrutural, alcançou grandes públicos. E como conta a atriz Helena Ignez, que interpreta Janete Jane, o reconhecimento não aconteceu à época, por influência de membros da esquerda conservadora. Somente 20 anos depois, o diretor do filme Rogério Sganzerla, levou outra obra - Nem tudo é verdade - ao Festival de Cannes.

Com 22 anos de idade, um incrível senso de desconstrução de roteiro e uma forte capacidade de roteirização para os parâmetros contextuais da época, Rogério Sganzerla chamou atenção. Como Bill Pronto coloca, os próximos 50 anos seriam dedicados ao estudo da obra de Sganzerla, assim como os 50 anteriores haviam sido colocados para investigação de Wells.

Considerado como o maior representante do Cinema Marginal, O Bandido da Luz Vermelha venceu o Festival de Brasília, em 1968, nas categorias de melhor figurino, melhor diretor, melhor montagem e melhor filme. Agraciado com a estética do lixo, já apontando para as mazelas do espaço urbano e da sociedade de consumo, abandona o conjunto de elementos até então valorizados pelo Cinema Novo. Enaltece o cafona, o sujo, a degradação moral dos personagens, como forma de enfatizar a ruptura com a rotina moderna.


Curiosidades:
- Sônia Braga faz uma pequena participação na trama, apenas como uma das vítimas do bandido.
- Mesmo para a efervescência cultural da época, o filme chocou e agradou o público, já habituado há constantes rupturas em todas as esferas da arte.
- O bandido Acácio, que inspirou a trama de Sganzerla, cumpriu sua pena no Carandiru, e no dia em que deveria sair de lá, se recusou. Estava convertido ao protestantismo, com um comportamento exemplar para o presídio, que incluía até pregação da Palavra aos colegas de prisão.