quarta-feira, 13 de abril de 2011

O BANDIDO DA LUZ VERMELHA: “Trata-se de um faroeste do Terceiro Mundo”

Por Sâmila Braga

“Quem sou eu?”. A inspiração existencialista de Godard se apresenta já na primeira fala de O Bandido da Luz Vermelha. Jorge, personagem inspirado no assaltante e assassino João Acácio Pereira, bonitão que assolou a cidade de São Paulo no fim da década de 50, inicia a obra com o monólogo. Logo, a narração debochada que se assemelha a um programa de rádio policialesco informa: “trata-se de um faroeste do Terceiro Mundo”. Ai, quem já escutou a música Rubro Zorro, da banda Ira, identifica. A canção, que pouco informa na letra, se refere claramente ao bandido da luz vermelha.

Lançado, em 1968, um ano depois de o mito inspirador da trama ser condenado à 351 anos, 9 meses e 3 dias de cadeia, O Bandido da Luz Vermelha marca exatamente o momento de transição entre o Cinema Novo e a abertura para o Cinema Marginal. Apesar de considerado Marginal, pela sua caracterização estrutural, alcançou grandes públicos. E como conta a atriz Helena Ignez, que interpreta Janete Jane, o reconhecimento não aconteceu à época, por influência de membros da esquerda conservadora. Somente 20 anos depois, o diretor do filme Rogério Sganzerla, levou outra obra - Nem tudo é verdade - ao Festival de Cannes.

Com 22 anos de idade, um incrível senso de desconstrução de roteiro e uma forte capacidade de roteirização para os parâmetros contextuais da época, Rogério Sganzerla chamou atenção. Como Bill Pronto coloca, os próximos 50 anos seriam dedicados ao estudo da obra de Sganzerla, assim como os 50 anteriores haviam sido colocados para investigação de Wells.

Considerado como o maior representante do Cinema Marginal, O Bandido da Luz Vermelha venceu o Festival de Brasília, em 1968, nas categorias de melhor figurino, melhor diretor, melhor montagem e melhor filme. Agraciado com a estética do lixo, já apontando para as mazelas do espaço urbano e da sociedade de consumo, abandona o conjunto de elementos até então valorizados pelo Cinema Novo. Enaltece o cafona, o sujo, a degradação moral dos personagens, como forma de enfatizar a ruptura com a rotina moderna.


Curiosidades:
- Sônia Braga faz uma pequena participação na trama, apenas como uma das vítimas do bandido.
- Mesmo para a efervescência cultural da época, o filme chocou e agradou o público, já habituado há constantes rupturas em todas as esferas da arte.
- O bandido Acácio, que inspirou a trama de Sganzerla, cumpriu sua pena no Carandiru, e no dia em que deveria sair de lá, se recusou. Estava convertido ao protestantismo, com um comportamento exemplar para o presídio, que incluía até pregação da Palavra aos colegas de prisão.

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