Por Sâmila Braga
Mudar para ser aceito. Quem nunca tentou que atire a primeira pedra. Esse era o drama de Zelig, vulgo Camaleão. Sua psicopatologia virou icone, camisas, músicas, capas de jornal, a cultura de uma época. A doutora Eudora Fletcher pega o caso do paciente que já passou por F. Scot Ftzgerald. Assim se passa a trama. Trajando as vestes de um documentário passado por volta de 1920 ou 1930, o enredo diverte-se com o gênero. O que seria chato vira a comédia encarnada por Woody Allen. Ele, multifacetado, assume o roteiro, a direção, o papel principal. As expressões, ou a falta delas, são ilariantes.
Especialistas convidados para mentir uma quase verdade. Nomes que pesariam em qualquer grande documentário, que buscasse retratar o real, ajudam a construir a engraçada história de Zelig.
Muito de psicologia, dos hábitos sociais, complexos. O desejo latente que cada um tem de se encaixar, de pertencer a um grupo, da construção do pseudo como forma de aceitação. Digamos que Zelig seja uma hipérbole desse desejo.
O filme de Allen ainda mostra como a sociedade encara as diferenças e busca pela igualdade. A mídia que informa com alarde transforma os menores fatos em espetáculo. Nesse caso, havia um grande caso, não foi preciso crescer histórias para vender jornais.
Mestre na sétima arte, o diretor mescla cenas de cinejornais de época e trabalha com a película em preto e branco para se aproximar do real, do histórico. O trabalho de produção proporciona a esses laços uma consistência sem igual. A tecnologia empregada vem de filmes anteriores, como Forest Gump. O realce acontece em cenas em que Zelig aparece próximo de Al Capone, Willian Randolph, Bobby Jones, Charlie Chaplin, o Papa Pio XI ou Adolf Hitler. É a magia de fazer rir ou chorar vindas dos grandes óculos de olhar caido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário