Ódio no rapto da família, da inocência. Sérgia Ribeiro da Silva. Menina – treze anos - teve que virar mulher. Do sol, do cangaço, do diabo louro. “Que foi? Parece que viu o tinhoso”. Havia. A boneca no saco, colocada pela brutalidade de Corisco. Não conhecia a vida. Conheceu o sofrimento. O amor desabrochava quando necessário. No mais, ficava feito mandacaru, guardado, leitinho, pra escorrer doce na seca mais forte. As correrias, os quatro filhos perdidos nas balas dos macacos de volante ou pela vontade do Senhor. Só três sobreviveram. Calor de Sertão. O Beato abençoara um deles. Não funcionou por muito tempo. Dada tratou de engrossar os couros. Acampada pelas securas do agreste, nômade, coração andarilho. Corisco gostava dela, do seu jeito, mas gostava. Ensinara Dada a ler, escrever e atirar. Ficou por aquela vida, a bichinha, rainha dele no fundo, via-se. Engrossou mesmo o couro. Vestiu-se mulher do bando. Tornou-se, como todas as outras e outros. Era amiga, comadre de Bonita, a Governadora do Sertão. No sonho de uma noite vislumbrou o anjo-mar – coisa distante por ali – de vestes de rede. As cabeças de seus compadres, chefes, nas mãos do anjo. Dada pressentira. Queria vida melhor. Preferiria as verduras do centro do país à ressequidão do Nordeste sem rumo.
Havia tempo que os macacos buscavam por quem agora era seu amor. Mesmo máquina da morte, de mãos secas, cujo brilho dos olhos perdera junto com as tantas vidas que tirou. Mesmo separando-se do bando de Lampião., permaneceram amigos, compadres. Na teima por ficar dali, por ali e com isso, o tiro. Não se entregou. Fugiram para uma casinha nos galhos secos, com a menina, afilhada. Novamente a volante, os tiros. Dada não deixou que tirassem a cabeça fora, como as dos outros cangaceiros, de Maria, Virgulino. Arrancou a própria perna. Precisava dar algo a eles. Somente anos depois Dadá consegue enterrar a cabeça do bruto amado. O corpo fora enterrado em Jeremoabo, na Bahia.
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