Antonio Ricci (Lamberto Maggiorani) atravessa tempos, culturas, nações. É personagem luta, símbolo, sofrimento. Operário da família, dos dias, do sistema. Encarna a alegria singela do desencantamento. Ao lado do filho Bruno (Enzo Staiola), encanta. A rica pobreza do homem que busca o prato. O que pareceria comum se transforma numa das tramas mais emocionantes da história do cinema. O roubo da bicicleta. Não pode lutar contra a inércia do mecanismo que controla, mantém. Deseja humanamente o trabalho sobre as duas rodas. E todas as migalhas que os patrões oferecem como vantagens. O abono familiar faria Bruno feliz. Aceita. O mesmo destino que lhe deu a sorte de ser tirado da massa de desempregados napolitanos no pós-guerra, levou suas rodas embora.
Um filme que trata da sociedade que exclui e do ser humano como fruto inerte diante de decisões maiores, vindas de artífices ocultos, propositalmente desapercebidos. A incrível e neo-realista capacidade de mostrar o banal que é subsistência. O homem proletário, arrimo de família, que enfrenta com o filho o desdém da burguesia que come às custas dos seus. Na cena
Nos instantes finais da película, Ricci se faz desespero. Mãos na cabeça, incertezas. Há algo parado à uma porta que o chama, dizendo que ele pode recuperar o emprego, a alegria e o sustento da família. Consuma. Rouba uma bicicleta, mas é pego. Agora Ricci é vergonha. Sua face treme diante de Bruno. Não o prendem, por piedade. Não sabem de nada. Ricci não é ladrão de bicicletas. Mas já não adianta tentar explicar. Há muitas coisas por trás disso. Ele chora. Nós também.
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